
Na Inglaterra,
o movimento modernista foi chamado de Modem
Style. A Inglaterra, no final do século XIX, estava passando pela Revolução
Industrial. Esta revolução consistiu na mecanização dos sistema de produção. Isto
é, houve um avanço tecnológico que permitiu à Inglaterra investir em máquinas
para que os produtos fossem produzidos em larga escala. Esse contexto trouxe à
tona uma mudança no modo de ser da população inglesa, sobretudo no modo de
produzir dos artistas em geral.
Os escritores
ingleses, no Modernismo, trouxeram uma quebra nos paradigmas literários e
passaram a produzir de um modo diferente. Segundo o dicionário Priberam online[1],
“modernismo é a qualidade daquilo que é moderno”. Pode-se significar também “coisa
nova ou recente”. Assim, os escritores queriam se expressar conforme sua época,
esquecendo o tradicional e propondo algo “melhor”. Vale ressaltar, ainda
segundo o dicionário Priberam, que o Modernismo é um “Conjunto de movimentos
artísticos e literários heterogêneos surgidos no final do século XIX e início
do século XX, que defendiam modelos baseados na reação contra as correntes
tradicionais”.
O século XX
trouxe consigo duas grandes guerras e inúmeras mudanças sociais. A Primeira
Grande Guerra (1914-1918) utilizou um modo peculiar nas batalhas: O uso de
canhões, metralhadoras e gases venenosos. Justamente por conta da revolução
corrida nas tecnologias até o dado momento. Já a Segunda Grande Guerra (1939-1945)
foi marcada por muitas mortes e acorreu logo após a grande crise econômica em
1929. Este momento foi também mote para o a mudança de pensamentos dos
europeus.
O Modernismo,
então, foi marcado por vários movimentos vanguardistas em forma de protesto, como:
Futurismo, cubismo, dadaísmo, expressionismo e surrealismo. Estas correntes
vanguardistas tinham como pressuposto um rompimento com a arte tradicional.
O Modernismo
foi marcado e caracterizado pela subjetividade e certa rebelião. Os padrões
artísticos de produção advindas antes do Modernismo eram extremamente rígidos e
fechados. Alguns historiadores chamam o século XX “século sangrento”, pois
ocorreram muitas mortes deste período. Por conta disso, pode-se pensar que os
escritores (os artistas em geral) necessitavam extravasar em suas produções,
uma vez que os conflitos trazem revolta, angústia e reflexões aprofundadas. Essas
reflexões foram refletidas no movimento em foco.
Os escritores
mais aclamados do Modernismo na Inglaterra foram Evelyn Waugh, D.H. Lawrence e
Virgínia Woolf.
Como o Modernismo tinha como proposta
uma substituição dos valores antigos por novos ideais, uma vez que a
sociedade da época vivia grandes impactos, o conservadorismo de muitos deve ter
sido um inconveniente. Isto é, receber o Modernismo como movimento legítimo
foi, realmente, uma questão. Sabe-se que quebrar paradigmas sempre é
complicado, pois a mudança traz consequências, por vezes, inimagináveis.
Ademais, o novo,
de certa forma, recebe rejeições, pois nem todos estão preparados para receber
tal postura. Precisa-se, então, haver uma adaptação na sociedade para que todos
possam compreender e até aceitar a nova modalidade artística. Porém, é
importante refletir que os modernistas, em algumas situações, “vomitaram” suas
ideias de modo agressivo. Desse modo, houve certa resistência a esse movimento.
Portanto, o maior inconveniente visto nesse movimento literário é a rejeição
presente na população da época.
Sabe-se que o movimento
modernista teve o objetivo de trazer à tona mudanças literárias, além de
expressar uma revolta a todos os acontecimentos que estavam ocorrendo no século
XX. Sendo assim, inúmeras novidades foram trazidas no escrita. Um deles foi o
fluxo de consciência.
O fluxo de consciência é um modo de
escrita no qual a personagem, através do narrador, expressa o complexo
processo de seu pensamento. Quando se pensa, sabemos que um turbilhão de
eventos ocorrem em nossa mente. Fatos passados, fatos presentes, planejamentos
futuros e ideias difusas passam em uma rapidez considerável. Observando-se todo
o turbilhão de eventos que eclodiram no século XX, essa técnica na escrita foi
bem colocada, uma vez que a sociedade enfrentava situações extremamente
confusas. Por ser um século também de transição, o fluxo de consciência foi
coerente. Os estudos na área de Psicologia, área fundada inicialmente por
Freud, também podem são observadas esta técnica, pois estava em jogo a
compreensão do consciente e do inconsciente.
É necessário diferenciar o monólogo
do fluxo de consciência. O monólogo é uma longa fala de um locutor. Nesta longa
fala, ocorre uma reflexão, razoavelmente, bem estruturada sobre um ou mais
assuntos. O locutor, desse modo, não é interrompido por nenhum outro personagem
e quase sempre responde aos seus questionamentos. Já o fluxo de
consciência traz o laborioso ato de pensar e suas variadas nuances e quebras. O
ritmo é totalmente não-linear.
O papel deste recurso na Literatura,
sobretudo no Modernismo, é romper com os padrões estabelecidos anteriormente.
Desse modo, o aspecto que colocava o “início-meio-fim” foi
ressiginificado e, então, a narração não-linear entra em cena.
Clarice Lispector, escritora
brasileira do século XX, é um bom exemplo de artista que usou bastante
esta técnica. Um exemplo desse recurso nesta autora é:
“[...] o bonde deu uma
arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô
despencou-se do colo, ruiu no chão, Ana deu um grito, o condutor deu ordem de
parada antes de saber do que se tratava o bonde estacou, os passageiros olharam
assustados. Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava
pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com
dificuldade, ainda incerta, incompreensível [...]”
(Fragmento do conto “Amor”,
extraído do livro “Laços de família, de Clarice Lispector).
Oscar Wilde criticava
ferozmente o patriotismo da sociedade inglesa no século XX. Ele, enquanto
modernista, estava muito atento a todo o efervescimento que ocorria em toda a
Europa e estava antenado às mudanças sociais. Logo, ele não entendia o
conservadorismo presente na aristocracia falida da Inglaterra que não aceitava
a ascensão da burguesia que representava os eram os novos ricos da sociedade.
Wilde analisava os
costumes retrógrados dos ingleses de maneira irônica. Ele configura a cidade e
o País pintando suas mazelas, paradoxos e decadências.
Na peça “A importância de
ser prudente”, Wilde enaltece o tempo inteiro Londres e a Inglaterra, em uma
espécie de patriotismo. Há trechos em que os personagens afirmam que em Londres
há os mais belos campos e que estes são maiores do que muitos países, como
França e Alemanha, fazendo uma alusão às guerras mundiais.
Além disso, na peça o
autor ressalta, sendo irônico, moças pudicas na Inglaterra, como se lê: “Não é
comum na Inglaterra, senhorita Worsley, uma moça falar com tanto entusiasmo de uma
pessoa do sexo oposto”.
Outra questão a ser
observada é a diferença entre homens e mulheres vistas na época: “Vocês não
permitem que exista nenhum tipo de amizade entre um rapaz e uma moça na Inglaterra”?
Percebe-se, à época, um
machismo exacerbado. Com certeza pela questão religiosa muito forte pautada no
cristianismo. Isso não difere nos dias atuais, o que torna o trabalho de Wilde
extremamente atual.
Além disso, podemos ver
outro exemplo de machismo na Inglaterra do século XX: “Ah, o mundo foi feito
para os homens, não para as mulheres”. Isso vem perdurando até hoje, pois em
inúmeros contextos os homens são valorizados. Vale lembrar que a criação dos
meninos e das meninas é categorizada desde a gravidez da mãe.
Ademais, Wilde sempre
compara a Inglaterra aos Estados Unidos: “Essas meninas americanas conquistam
todos os bons partidos. Por que elas não podem ficar lá no país delas? Não
vivem nos dizendo que lá é o paraíso das mulheres?”. Vejamos aí uma crítica
forte aos Estados Unidos e uma certa vontade conhecer o local. É notado isso
também em: “Parece-me, lorde Illingworth, que o senhor não dá à América o seu
devido valor. Trata-se de um país admirável, principalmente considerando que é
ainda um país tão jovem”.
Outro aspecto criticado é
a corrupção na política na Inglaterra: “Dizem que os políticos estão num triste
estado em toda parte. Na Inglaterra, certamente estão”.
Wilde também disserta
sobre a “pseudointelectualidade” britânica: Nada é sério a não ser a paixão. O
intelecto não é nem nunca foi uma coisa séria. Ele é um instrumento no qual
tocamos, só isso. A única forma séria de intelecto que conheço é o intelecto britânico.
E no intelecto britânico os iletrados tocam tambor”.
Desse, modo, podemos
concluir que Wilde faz uma crítica ao patriotismo descabido na Inglaterra do
século XX, dentre outras tantas questões.
A primeira atitude
observada (leia-se criticada) é o casamento como contrato. Isto é, o casamento
não era baseado no amor genuíno, sem interesses financeiros. Outro fator que torna
a obra de Wilde rica e atual, pois nos dias atuais (século XXI) há esse desejo
ardente em ascender socialmente através de um “bom partido”. Existem,
inclusive, em seções de autoajuda, em muitas livrarias, nacionais e
internacionais, livros com a temática, ou seja, como conseguir um “bom”
casamento.
Esse desejo de casar e ser
bem-sucedido no casamento pode, também, ser analisado neste trecho:
“Você se preocupa demais,
Caroline. Acredite, você se preocupa demais. Além do mais, lorde Illingworth
pode se casar qualquer dia desses. Minha esperança era que ele se casasse com
lady Kelso, mas acho que ele disse que a família dela era grande demais. Ou
será que eram os pés dela? Esqueci qual.6 Fiquei tão chateada. Ela nasceu para
ser esposa de embaixador”.
Analisando bem a parte
“ela nasceu para ser esposa de embaixador”, podemos entender bem o jogo de
interesses nessa afirmação.
É possível perceber
que há uma distância muito grande entre os casais e a criação dos filhos, como
é até a data atual na maioria dos casos, fica por conta exclusivamente da
mulher:
“Kelvil: Minha
esposa está no litoral com as crianças, lady Caroline.
Lady Caroline:
O senhor, sem dúvida, vai se juntar a elas mais tarde, não?
Kelvil: Se os meus compromissos públicos me
permitirem”.
Portanto,
conclui-se que o casamento é bastante criticado. com a ironia peculiar e
ferrenha de Wilde.
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