CAROL ANN DUFFY: POETA, INGLESA, HOMOSSEXUAL


Introdução – Um pouco sobre Carol Ann Duffy
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Carol Ann Duffy, conforme estudos feitos por Ana Filipa Oliveira, na tese de mestrado intitulado “Despendendo-se do colosso: Carol Ann Duff e a dominação feminina”, nasceu em 23 de dezembro de 1955 (61 anos), em Glasgov (Reino Unido).
Duff, profissionalmente, é professora de Poesia Contemporânea na Universidade Metropolitana de Manchester e foi uma poeta laureada da Grã-Bretanha.
Carol Ann Duff, em seus escritos, discute sobre gênero e subverte questões acerca da masculinidade e feminilidade.
Em Portugal, como atesta Ana Felipa Oliveira (2009), o trabalho de Duff torna-se quase invisível por conta da falta de tradução.
Análise do poema “Mentirosa” (Carol Ann Duffy)

Mentirosa

Ela inventava coisas: por exemplo, que na verdade era um homem. Depois de tirar um vestido de verão de algodão floral ela era mesmo ele, na sua cabeça
Com aquela pesada fazenda de Oxfam
Por acaso ele se chama-se Susan. Os olhos no espelho
Sabiam isso, mas fazia-os desviarem-se

Claro, um emprego; claro, um apartamento enfadonho na cidade,
Claro, os amigos de costume. Amores? Às vezes.
Ela vivia como tu, uma dúzia de pontas de cordas soltas
Em cada não de sonho, puxando inutilmente pela memória ou esperança. Em fiapos. Ela contava histórias.
Vivi em Moscovo uma vez. Quase me afoguei... Podre.

Atingiu-me um relâmpago e estou aqui para cantar... Mentirosa
Hipérbole, falsidade, ficção, tretas eram seixos atirados.

Ao charco raso do entardecer; os seus olhos brilhantes
Pregados à ondulação: Ninguém acreditava nela
Os nossos filmes secretos são casos privados, observados por detrás dos olhos
Ela falava em legendas censuradas

De mal a pior. A ambulância reclamou o caminho todo
Até ao parque onde ela brincou com a criança raptada
Já sabem o resto. O homem com a longa peruca branca
Que a achou lamentavelmente confusa
O notável psiquiatra
Que a estudou na cela e que depois voltou para casa e fez o que faz todas as noites à Princesa de Gales


Na primeira estrofe, “Ela inventava coisas: Por exemplo que, na verdade, era um homem” fica coerente o motivo do título do poema ser “Liar” (mentirosa). O eu lírico narra o comportamento de uma pessoa, uma mulher, provavelmente lésbica, que mente muito, sobretudo acerca de sua sexualidade.
Algo que chama atenção no seguinte trecho, ainda na primeira estrofe, é: “Ela era mesmo ele, na sua cabeça”. É possível, realmente, uma mulher pensar que é homem em sua cabeça, pois a pessoa é aquilo que pensa, como diz Augusto Cury, psicólogo brasileiro.
Na segunda estrofe, o eu lírico narra a vida da “mentirosa”. Sabe-se que a pessoa narrada já morou em Moscovo. Moscovo (ou Moscou) é a capital da Rússia. Pelo o que se pode entender ao ler o estrofe em questão, a ser narrado tem uma história conturbada. Cheia de turbulências.
Na terceira estrofe, o eu lírico afirma: “Atingiu-me com um relâmpago e estou aqui para contar... Mentirosa”.  O que seria esse “relâmpago”? Provavelmente, em linguagem conotativa, o eu lírico diz que recebeu um golpe da mentirosa. Pode-se compreender também uma espécie de revolta também, quando este eu lírico dá o nome de mentirosa ao ser narrado.
Na quarta estrofe, é dito: “NINGUÉM ACREDITAVA NELA”. Ou seja, é perceptível que o ser narrado não tem mais, perante as pessoas, credibilidade. Em seguida, lê-se: “Os nossos casos privados, observados por detrás dos olhas. Ela falava em legendas censuradas”. É possível compreender que “os nossos casos privados” é uma espécie de metáfora para dizer sobre a relação íntima-secreta do eu lírico com o ser narrado, a mentirosa. Posteriormente, o eu lírico mostra-se insatisfeito com a mentirosa, pois “ela falava em legendas mentirosas”. Isto é, a mentirosa escandalizava falando coisas muito pessoais da vida do “casal”, se é que era um casal mesmo.
O último estrofe traz uma ideia de loucura para a mentirosa e diz que ela foi parar numa clínica psiquiátrica.



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