INTRODUÇÃO
Esta pesquisa, iniciada por mim, em 2011, de forma voluntária, sob a orientação da profa.
Dra. Carla Luzia Carneiro Borges, intitula-se “Modos de Vender Arte Popular em Feira de
Santana” e teve renovação concedida pelo órgão de fomento à pesquisa Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PROBIC/UEFS 2013-2014).
Este trabalho tem como locus de pesquisa o Centro de Abastecimento de Feira de Santana e
tem como objetivo principal investigar a referência de arte em Feira de Santana. Os
objetivos específicos são analisar a construção do objeto de discurso arte em Feira de
Santana, mais especificamente, identificar as expressões nominais usadas para falar de
arte no Centro de Abastecimento e relacioná-las às ideologias presentes nos modos de
vender arte na Cidade.
Para investigar o conceito de arte, no primeiro ano da pesquisa (2012-2013), dialoguei com
teóricos e historiadores da arte, a saber, Amaral (1984), Azevedo (2003), Ficher (1983) e
Janson (1977; 1988). Cada um destes tem um conceito de arte controverso, mas que, em um
ponto, entram em consenso: a arte é tudo aquilo que se escolhe chamar de arte. No entanto, a
arte não pode ser confundida com elementos da natureza. Ou seja, o sol, a lua, uma árvore não
pode ser arte, pois não é uma criação do homem. Porém, há esta ressalva: caso o
criador/artista criar uma situação que envolva um elemento da natureza, esta pode ser
considerada. O que não é arte é unicamente um elemento isolado sem nenhuma intervenção
que pode ou não ser considerada bela, pois se sabe que este parecer é subjetivo.
Discutindo sobre arte, Amaral (1984) afirma que, em todas as manifestações artísticas, há um
retrato social feito pelo artista que, ainda para ela, reflete em suas obras o momento histórico
em que está inserido. Para Fischer (1983), “o artista é uma espécie de mágico que apropria e
acaba por transformar sua obra-prima em algo novo” (FISCHER, 1983, p. 10). Já Para
Janson (1977), “definir arte é quase tão difícil como definir um ser humano. Todas as
generalidades acerca da arte são, normalmente, fáceis de refutar” (JANSON, 1977, p. 10).
Todavia, o conceito de arte que mais fez sentido, para mim, foi a de Azevedo que diz: “é
evidente que a arte está no outdoor que vemos nas ruas, na arquitetura dos prédios e casarios
das cidades, nos programas de TV, nos jornais e revistas, na internet, nas igrejas, nos templos,
nos terreiros...” (AZEVEDO, 2003, p. 23).
Para a noção de referência, discuto duas teses de doutorado: Borges (2007) e Oliveira (2011).
A teoria de referência diz respeito à construção de sentido/significado que se dá a
determinados objetos de discurso presentes no mundo e são criados discursivamente, ao longo
do tempo, pelas pessoas (Oliveira, 2011). Ainda segundo Oliveira (2011), buscar o
sentido/significado das coisas compete à Semântica, mas não só a esta subárea da ciência
linguística. Defendo, juntamente com Oliveira (2011), que a construção de sentido (acrescento também a produção de conhecimento sobre arte) está dentro e fora da Linguística,
como aliás Orlandi (2009) também concorda quando diz que “não há só uma maneira de se
pensar a linguagem. Há várias [grifos meus]” (ORLANDI, p. 2009)
Neste ano de 2013, iniciei a pesquisa “Modos de vender arte popular dos ambulantes no
Centro de Abastecimento em Feira de Santana” e continuo com os mesmos objetivos , mas
agora focando nos ambulantes que circulam no Centro de Abastecimento. Dialogo agora com
Chauí (1983) para discutir ideologia. A autora traz duas concepções de ideologia. A primeira
como “atividade filosófico-científica que estuda a formação das ideias a partir da observação
das relações entre o corpo humano e o meio ambiente, tomando como ponto de partida as
sensações [...]” (CHAUÍ, 1983, p. 11). A segunda concepção é a seguinte: “ideologia passa a
significar também o conjunto de ideias de uma época, tanto como ‘opinião geral’ quanto no
sentido de elaboração teórica dos pensadores dessa época” (Chauí, 1983, p. 11).
METODOLOGIA
O estudo de caso fez-se necessário, pois se sabe que, em maior ou menor grau, a
individualidade expressa a coletividade, utilizando um pensamento de Minayo (2011). Além
disso, através dele pode-se extrair particularidades e generalizações que se fazem pertinentes a
esta pesquisa.
Dessa forma são feitas visitas periódicas ao Centro de Abastecimento com o propósito de
adentrar no cotidiano dos vendedores do campo escolhido e perceber as relações estabelecidas
naqueles espaços de venda. Estou observando, a partir destas visitas, como era/é referenciado
o objeto de discurso arte tanto na fala dos vendedores, quanto nas fachadas dos boxes.
Durante estas observações, faço registro fotográfico de expressões nominais que são
responsáveis pela construção do objeto de discurso arte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de tudo que vivenciei no Centro de Abastecimento, posso fazer algumas
considerações. Esta pesquisa sobre os modos de vender arte popular em Feira de Santana tem
relevância, pois valoriza a cultura local, já que esta cidade nasceu por conta do comércio e é
conhecida também por isto. Em relação ao Centro de Abastecimento, fui em busca de
vendedores/artesãos, mas o único vestígio, naquele espaço, de pessoas que vendiam os
objetos que produziam foi o de ambulantes que circulavam por aquele espaço, vendendo para
os donos dos boxes. Sobre os preços, os objetos vendidos naquele espaço não são baratos e,
mesmo a arte popular, não é acessível à maioria dos feirenses.
Sobre arte, a maioria dos nomes dos boxes que vendiam artesanato, bem como os outros
boxes, fazem referência ao objeto de discurso arte. Além disso, para o vendedor de artesanato
do Centro de Abastecimento e para os teóricos de arte adotados, a arte é algo que serve para
decorar.
Por fim, até agora, o que se pode afirmar sobre arte, referenciado pelos vendedores do Centro
de Abastecimento, é que está ligada, geralmente, a elementos culturais. Fundamentado nesta
afirmação, Amaral (1984) ressalta que a arte tem que ver com questões sociais. Logo, estas
questões sociais estão ligadas à cultura de uma determinada época e de uma determinada
sociedade.
REFERÊNCIAS
AMARAL. A. Arte para quê? A preocupação social na arte brasileira (1930-1970). São
Paulo: Nobel, 1984.
AZEVEDO, Fernando A. Isto é arte?: uma reflexão sobre a arte contemporânea e o papel do
arte-educador. In: ANDRIES, André (org). Caderno de textos: educação, arte, inclusão. Rio
de Janeiro: Funarte, n.3 ago./dez., 2003.
BORGES, Carla Luzia Carneiro. A criança e suas reescritas escolares: as estruturas com
determinantes. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos
da Linguagem. Campinas, SP: [s.n.], 2007.
CHAUÍ, Marilena de Souza. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1983.
MINAYO, Maria Cecilia de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu.
Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petropólis: Vozes, 2011.
OLIVEIRA, Adilson Ribeiro de. Processos de referenciação, emergência de
representações sociais e produção de sentido: um olhar sobre percursos interpretativos na
atividade de leitura. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais.Programa de Pós-Graduação em Letras. Belo Horizonte, 2011.
ORLANDI, Eni Puccinelli. O que é linguística? São Paulo: Brasiliense, 2009.
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